Uma proposta para reduzir a dívida pública dos estados com a União foi apresentada ontem, em Brasília, pelos governadores que integram o Consórcio de Integração Sul e Sudeste, o Cosud.
O encontro ocorreu com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Estavam presentes os governadores de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo, portanto, os quatro do Sudeste, bem como dois dos três do Sul: Ratinho Júnior, do Paraná; e Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul.
O único ausente foi Jorginho Mello, que mandou a vice-governadora Marilisa Boehm para representá-lo, acompanhada do Secretário da Fazenda, Cleverson Siewert.
Na discussão, havia a expectativa de que Estados e União pudessem chegar a um entendimento.
Até mesmo para que os estados tenham um alívio financeiro.
Ausência estratégica
Não foi coincidência a ausência de Jorginho Mello. Nas últimas reuniões do consórcio, ele tem enviado a vice-governadora em seu lugar. O distanciamento de Jorginho em relação ao grupo de governadores ganhou certa relevância quando todos sustentaram a tese da elevação dos impostos.
Diferença
E qual foi o único Estado que não aderiu a esse movimento, especialmente liderado pelo Paraná e por São Paulo? Santa Catarina.
Na veia
Por isso, Jorginho Mello foi homenageado pela Confederação das Federações Empresariais (Cofem) na virada do ano, em reconhecimento ao fato de ter se mantido firme em relação ao discurso assumido na campanha contra qualquer aumento de impostos.
Sem foto
Outras duas reuniões foram realizadas e Jorginho Mello também não compareceu. O que se observa claramente é que ele procura evitar qualquer contato com representantes do governo Lula.
Agenda
Houve um evento no Palácio do Planalto, com a presença do presidente da República, para encaminhamentos relacionados a obras de infraestrutura. O escalado para representar o governo catarinense foi o secretário Jerry Comper.
Taxhadd
Dessa vez, ele também não compareceu ao encontro com o ministro Fernando Haddad, que foi o candidato do PT derrotado por Jair Bolsonaro em 2018. Ou seja, ele se mantém distante de maneira absoluta, evitando encontros com titulares da Esplanada sob Lula III. Isso porque o estado catarinense é essencialmente conservador e potencialmente bolsonarista.
Cabo eleitoral
E Jorginho Mello, enquanto senador, sabe que sua eleição vitoriosa contou significativamente com a transferência de votos de Bolsonaro, pelo PSL, na sua candidatura lá em 2018. E Bolsonaro também foi fundamental para a eleição de Jorginho ao Governo do Estado em 2022.
Mantra
Ou seja, manter uma distância regulamentar do governo federal é o lema de Jorginho Mello. Evidentemente, sem provocar prejuízos administrativos e financeiros ao Estado, na medida em que seus representantes estão lá em nome de Santa Catarina.
Fora dessa
Mas ele, particularmente, quer distância de Lula da Silva, de Geraldo Alckmin e dos ministros do governo federal.
Ideli Salvatti. Quem não ouviu falar dela? Ela chegou a Santa Catarina com o marido, Eurides Mescolotto, na primeira metade da década de 1970. Foi recepcionada pelo então prefeito Pedro Ivo Campos, de Joinville.
Ele já havia recebido uma sinalização, alguns dizem que de Lula da Silva, outros dizem que teria partido de lideranças políticas do estado de São Paulo, mas o fato é que ela chegou ao estado. Por Joinville e pelas mãos de Pedro Ivo. Depois ela se transferiu para Florianópolis, onde passou a ter uma atuação semelhante à de São Paulo como líder sindical. Tanto ela quanto o próprio Mescolotto.
Muito bem fixados na Capital, os dois começaram naturalmente a interagir, a fazer política pelo PT, partido que nasceu por aqui especialmente pelas mãos de Ideli e Mescolotto, que não foi apenas o primeiro presidente do PT catarinense. Ele também foi o primeiro candidato do partido ao governo do estado no restabelecimento das eleições em 1982. Aliás, com grande performance, desenvoltura verbal e inteligência.
Ribalta
O mesmo Mescolotto que depois chegou a presidir o Besc (já no período de incorporação e federalização pelo Banco do Brasil) e também a Eletrosul, quando a empresa ainda era estatal, coincidindo com o governo Lula.
Ela
Mas voltemos à Ideli Salvatti. Ela também ganhou visibilidade sobretudo pela atuação à frente do Sindicato dos Trabalhadores da Educação. Foi o trampolim para a petista chegar à Assembleia Legislativa para um primeiro mandato.
Raspando
A petista conseguiu a reeleição. Mas passou raspando. A recondução foi no limite. Ideli entrou na última vaga. Com algo em torno de 15 mil votos lá em 1998. Em 2002, ao natural, seria candidata à reeleição. Mas não. Com uma reeleição ameaçada, colocou o nome ao Senado.
Onda vermelha
Justamente na eleição que marcou a vitória de Lula da Silva, depois de três insucessos consecutivos na disputa pela Presidência da República, marcando a onda vermelha no começo do século. Lula foi uma verdadeira avalanche. Sua candidatura em Santa Catarina, aliás, no primeiro turno, foi a que obteve a principal vitória proporcional do país, turbinando a candidatura de Ideli Salvatti. Com mais de 1 milhão de votos, ela ficou com a primeira das duas vagas.
Força
Naquela eleição, o PT elegeu cinco federais por SC e nove estaduais na Alesc. Ela cumpriu o seu mandato, foi líder do PT no Senado; também foi líder do governo, ocupou três postos diferentes na Esplanada dos ministérios. No governo Dilma Rousseff, foi para a pasta dos Direitos Humanos, Pesca e Articulação Política.
Articulação
Era interlocutora do Planalto com o Congresso, mas se expôs demais e se queimou. Tanto é que, ao fim do mandato, concorreu ao governo em 2010, ficando em terceiro lugar. Essa eleição marcou a vitória, a primeira, de Raimundo Colombo, ainda no primeiro turno.
Fim de carreira
A votação de Ideli foi tão irrisória há 14 anos que ela nunca mais disputou uma eleição. Muito tempo depois, agora, há poucas semanas, tentaram especular o nome dela para disputar a prefeitura de Florianópolis. Não colou, evidentemente. Ideli teve a imagem muito atrelada ao desastre petista. Inclusive, com a derrocada de Dilma Rousseff, que foi cassada.
Geladeira
Ela ficou distante porque a sua presença atrapalhava o PT, mas agora com Lula novamente na Presidência da República, colocou o seu nome à disposição. O fato é que o PT não tem nenhuma chance na Capital. E muito menos com Ideli Salvatti. Mas logo depois dessa ventilação, ela já submergiu novamente porque o ex-vereador Lela foi o escolhido como nome petista. Ele esteve inclusive com Lula da Silva e Gleisi Hoffmann em Brasília.
Estarrecedor
Agora, para a surpresa geral, aquela mesma que foi acolhida em Santa Catarina, estado de um povo que lhe deu três mandatos, essa mesma senhora, representando um tal Instituto dos Direitos Humanos foi a São Paulo para homenagear o Padre Júlio Lancelotti, esse notório e controverso prelado, que nas últimas semanas estava mais nas páginas policiais. E foi tratado por Ideli como um bastião da democracia e dos direitos humanos no Brasil. Seria cômico se não fosse trágico.
Ódio vermelho
E ainda falou que Santa Catarina está difícil de viver porque é um estado carregado pelo ódio e que teria células neonazistas como em nenhum outro estado brasileiro.
Arquitetas
Ideli Salvatti espinafrou até mesmo a arquitetura da cidade de Balneário Camboriú. Que não só é uma cidade essencialmente empreendedora, mas também geradora de emprego, justamente por uma indústria da construção civil consolidada.
Torrou o filme
Falou uma asneira atrás da outra, a dona Ideli, e agora está sendo metralhada nas redes sociais. Se não gosta de Santa Catarina, da companhia dos catarinenses que a elegeram para três mandatos, que ela retorne ao estado de origem, sua terra natal, São Paulo. Por que continua em Santa Catarina e falando mal do estado fora daqui? Brincadeira tem hora.
Blog do Prisco
Começou no jornalismo em 1980, no jornal O Estado. Atuou em diversos veículos de comunicação: repórter no Jornal de Santa Catarina, colunista no Jornal A Notícia e comentarista na RBS TV, TV RECORD, Itapema FM, CBN Diário e Radio Eldorado. Comenta diariamente em algumas rádios e publica sua coluna do dia em alguns jornais do Estado. Estreou em março de 2015, nas redes sociais e está no ar com o Blog do Prisco.