Estados Unidos absorvem 33% do pescado catarinense, e taxação de até 50% ameaça exportações, contratos e empregos
Empresas do setor pesqueiro de Santa Catarina já começaram a sentir os reflexos da tarifa de até 50% que os Estados Unidos devem aplicar sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto.
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Mesmo antes da entrada em vigor da medida, o impacto já preocupa empresários e entidades representativas, devido à dependência do mercado norte-americano para escoar a produção.
Segundo o Sindipi (Sindicato dos Armadores e das Indústrias da Pesca de Itajaí e Região), cerca de 33% das exportações de pescado catarinense têm os EUA como destino, o que representa aproximadamente R$ 13 milhões dos R$ 40 milhões movimentados anualmente.
Em produtos como meca e corvina, a dependência é ainda maior: 100% da meca e 66% da corvina capturadas em SC vão exclusivamente para os EUA.
Com o bloqueio europeu ao pescado brasileiro desde 2018, os Estados Unidos tornaram-se o principal parceiro comercial do setor. Agora, com o risco de perda de contratos e a possibilidade de cancelamento de embarques, empresas catarinenses já suspendem investimentos e reorganizam planos.
Mesmo com a tarifa só entrando em vigor em agosto, a logística do setor pesqueiro exige envio antecipado das cargas — o que pode resultar em produtos desembarcando já sob a nova taxação. O resultado é a perda de competitividade frente a países que mantêm tarifas mais baixas com os norte-americanos.
O presidente da Fiesc, Mario Cezar de Aguiar, reforça que a medida ameaça a sustentabilidade das exportações catarinenses. “Outros países concorrentes podem ter taxas inferiores, o que coloca nossos produtos em desvantagem”, afirmou.
Além disso, o setor pesqueiro em SC é responsável por mais de 30 mil empregos diretos e outros 20 mil indiretos, envolvendo toda a cadeia produtiva, desde a pesca até o processamento e logística.
O Sindipi está em articulação com o Ministério da Pesca e Aquicultura, buscando apoio diplomático para reduzir ou reverter a taxação, como já aconteceu com outros países. Em paralelo, entidades e empresários trabalham para abrir novos mercados e reduzir a dependência dos EUA.
Recentemente, comitivas do Reino Unido e da Itália visitaram o litoral catarinense avaliando embarcações e estruturas sanitárias, com interesse na importação do pescado brasileiro.
"Estamos sempre buscando alternativas. Temos a frota mais qualificada e certificada do Brasil e seguimos confiando em uma solução diplomática", afirma o Sindipi. Segundo o sindicato, 75% dos barcos brasileiros habilitados para exportação pertencem à frota de Itajaí e região, demonstrando o comprometimento do estado com a qualidade e regularidade da produção.
Enquanto isso, empresas como a do empresário Dario Vitali, em Itajaí, já enfrentam incertezas. “Tínhamos planos de expansão que foram congelados. É um momento difícil, esperamos que haja consenso entre os países para destravar esse impasse”, desabafa.