Conforme vaticinamos aqui, que dificilmente Lula da Silva viria a SC, o Palácio do Planalto confirmou oficialmente o cancelamento da viagem presidencial a Itajaí, inicialmente prevista para o dia 20. A notícia, evidentemente, já havia vazado.
Já era voz corrente que Lula da Silva não viria, mas aproveitando essa manifestação palaciana, é possível raciocinarmos por que o petista não virá ao estado. Aliás, em quase dois anos e meio de mandato, uma única visita em solo catarinense. Coincidentemente, em Itajaí, onde ele viria novamente.
Itajaí é administrada pelo prefeito Robison Coelho, do PL. O PT sequer lançou candidato na cidade. E aí veio a federalização do Porto de Itajaí, uma espécie de vingança de Décio Lima para cima de seus conterrâneos. Ele nasceu na cidade portuária.
E já foi superintendente do Porto. Em 2022, acabou derrotado ao governo do Estado, por larga margem. Aliás, a sova não foi só nele.
O próprio Lula também foi a nocaute por aqui. Ele fez 30%, enquanto Bolsonaro conquistou 70% no segundo turno. Mas por que Lula não veio? Não apenas porque aqui não tem ambiente pra ele. A sua rejeição já é de 78% do seu governo.
Distância
Quando vier, Lula não será recebido nem pelo governador e nem pelo prefeito de Itajaí. Sua imagem e popularidade estão derretendo lá em cima também, no Nordeste. Imaginem no Sul do país, assistindo a esse descontrole econômico e financeiro, que está comprometendo o poder aquisitivo do brasileiro.
Motivos
Mas ele não vem apenas por esses motivos. É porque no dia 6 de junho tem eleição direta dos filiados do PT para eleger um novo presidente. Hoje, o partido é pilotado por Décio Lima, que não largou o comando da sigla apesar de ter assumido a presidência do Sebrae nacional. Simples assim.
Viajando Lima
Décio sabe que não tem reeleição e por isso mesmo não deve se arriscar a uma disputa.
Já existem dois candidatos de oposição, dois deputados. Padre Pedro Baldissera e o líder Fabiano da Luz. No final, vão estar numa candidatura só. Até porque os dois são do Oeste.
Senado
Décio Lima não vai para uma terceira candidatura ao governo, conforme já havíamos antecipado no ano passado. Primeiro porque não vai conseguir a indicação. E segundo, porque seria uma terceira derrota, igualmente acachapante. Décio vai tentar uma candidatura ao Senado, que, assim como Bolsonaro, Lula já começa a priorizar.
Câmara Alta
A renovação será de dois terços no Senado. Os brasileiros elegerão 54 novos senadores, dois de Santa Catarina. Ou seja, Décio Lima não apenas perde o controle do partido como também perde a primazia de uma candidatura ao governo.
Descontrole
Vai ter que se sujeitar a uma candidatura ao Senado, mesmo que esse seja o seu objetivo e de Lula da Silva. Mas, isso mostra que ele perdeu o controle da situação, que o seu grupo interno não é mais majoritário no partido.
Adiamento
E isso também fez com que Lula jogasse para o segundo semestre uma visita. Preferiu não vir aqui já num clima eleitoral interno; situação que eles prezam muito.
Correndo
De modo que o quadro é mais ou menos esse. Lula da Silva batendo em retirada. O petista não quer saber de Santa Catarina, porque sabe que aqui o ambiente é hostil.
Desgaste
Vamos observar o desenrolar dos acontecimentos, mas a cada dia que passa o quadro econômico se agrava e o desgaste de Lula e de seu governo aumenta.
Norte a Sul
Esse desgaste todo já é uma realidade nacional, ocorre nos nove estados nordestinos que, em última análise, o elegeram Presidente da República. É fácil imaginar o quadro periclitante do inquilino Palácio do Planalto nos estados do Centro-Oeste, do Sudeste e especialmente do Sul. Sempre lembrando, Santa Catarina é o estado mais conservador da federação. E, além de essencialmente conservador, é um estado potencialmente bolsonarista.
Jair Bolsonaro está inelegível e não vai ganhar a condição de poder disputar as eleições de 2026. Por razões óbvias, o establishment não deseja a sua candidatura. O sistema já desempenhou papel determinante na sua derrota para Lula da Silva em 2022, com uma condução do processo eleitoral viciada, tendenciosa e parcial. Simples assim. Agora, ainda com a possibilidade da sua condenação, igualmente absurda, como a sua condição de inelegibilidade.
Em compensação, um corrupto juramentado, foi descondenado, libertado, com seus direitos políticos restabelecidos, eleito com a ajuda do sistema, e exerce hoje, de maneira desastrosa e irresponsável, a Presidência da República.
Apenas isso. Mas muito bem, no evento de Copacabana, na manifestação, pela primeira vez Bolsonaro admitiu a possibilidade do encerramento do seu ciclo político. E aqui entre nós, como dizia o engenheiro Leonel de Moura Brizola, “francamente”, Jair Bolsonaro foi longe demais. Ter sido presidente da República por quatro anos já foi uma dádiva. E agora? Tem que passar o bastão.
Mas não se trata de passar o bastão para alguém da família, lançando a ex-primeira-dama, Michelle, ou um dos dois filhos, Flávio ou Eduardo. Não. Isso é despropositado.
Divisão
Isso vai criar um racha no eleitorado conservador. Há quem diga que isso ficaria restrito ao turno inicial do pleito. Mas, no segundo turno, quem carimbar o passaporte pode ter sérias dificuldades de contar com o apoio dos derrotados no mesmo espectro ideológico. É uma realidade inquestionável.
Cenários
Se Bolsonaro, de forma antecipada, respalda o nome de Tarcísio de Freitas como seu sucessor, a possibilidade de uma acomodação reunindo Ronaldo Caiado ou Romeu Zema, ela é muito provável, ela passa a ser factível. Diferentemente se for um membro da família. De modo que chegou o momento de raciocinar em grupo e não de forma isolada e limitada.
Personalismo
Temos que acabar com essa história de uma candidatura de alguém que leva o sobrenome Bolsonaro. Tarcísio é disparado o melhor nome. Pesquisa realizada pelo Centro Brasileiro de Estudos e Planejamento, que pertence à USP, Universidade de São Paulo, mostrou que 42% desejam a candidatura de Tarcísio como sucessor de Bolsonaro.
Grupo
Foram quase 500 consultados ao longo da manifestação em Copacabana, no domingo. Michelle Bolsonaro aparece com a metade da preferência, 21%.
Sequência
Depois, aparecem Eduardo com 16%, Flávio com 6%. Tarcísio fez um discurso articulado, forte e totalmente alinhado a Jair Bolsonaro. Chegou mais do que o momento de um comportamento cristalino da parte do ex-presidente. Acenando com novas perspectivas para 2026.
Será?
E olha, se ele adotar essa postura, e o discurso já foi uma sinalização, talvez o Supremo Tribunal Federal seja um pouco mais complacente e não decrete a sua prisão. Agora, se ele insistir nessa candidatura, inviável, a punição pode ser maior ainda. Então, a pergunta que fica no ar é a seguinte: mas ele deve ceder em função dessa ameaça? Não.
Projeto
Ele deve ceder na direção de um projeto com possibilidade de vitória em 2026. E isso não passa por uma candidatura da família Bolsonaro. Ponto. Necessariamente passa pela candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, compondo com Caiado ou Zema. Alias, Minas Gerais é o segundo maior colégio eleitoral do país.
Blog do Prisco
Começou no jornalismo em 1980, no jornal O Estado. Atuou em diversos veículos de comunicação: repórter no Jornal de Santa Catarina, colunista no Jornal A Notícia e comentarista na RBS TV, TV RECORD, Itapema FM, CBN Diário e Radio Eldorado. Comenta diariamente em algumas rádios e publica sua coluna do dia em alguns jornais do Estado. Estreou em março de 2015, nas redes sociais e está no ar com o Blog do Prisco.