Especialistas apontam falta de investimento, tecnologia defasada e integração limitada entre órgãos como causas da vulnerabilidade nacional
As fronteiras estão esquecidas, e o crime organizado avança - Foto: Reprodução As recentes apreensões de armamentos pesados e a escalada da violência em grandes centros, como o Rio de Janeiro, reacenderam o alerta sobre a fragilidade das fronteiras brasileiras e o sucateamento das Forças Armadas, principais responsáveis pela vigilância dessas áreas estratégicas.
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Com 16.885 km de fronteira com dez países sul-americanos, o Brasil depende diretamente da capacidade operacional das Forças Armadas para conter o avanço do tráfico de armas e drogas, que abastece facções criminosas em todo o país. No entanto, cortes orçamentários, equipamentos obsoletos e projetos de monitoramento atrasados vêm comprometendo a atuação dessas forças.
Em maio, o governo federal reduziu em R$ 2,6 bilhões o orçamento da Defesa, afetando despesas básicas como combustível e manutenção. Parte das unidades militares passou a operar em regime de contingenciamento, limitando-se a atividades essenciais.
O Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), considerado peça-chave no combate ao crime transnacional, é um exemplo do atraso estrutural. O programa, que usa sensores, radares e vigilância em tempo real, deve cobrir toda a fronteira apenas em 2035 — até lá, apenas uma fração do território é monitorada.
Segundo o advogado criminalista Guilherme Augusto Mota, o país precisa de uma resposta estruturante e contínua.
“O combate ao tráfico e às facções exige investimento em tecnologia, integração entre Forças Armadas, Polícia Federal, Receita e estados, e fortalecimento de políticas como o Plano Estratégico de Fronteiras e as Operações Ágata e Sentinela”, explicou.
Além disso, Mota defende uma cooperação internacional mais ampla com países fornecedores e de trânsito de armamentos, para ampliar o intercâmbio de informações e harmonizar medidas de repressão.
Na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei 3517/23, que cria o Plano Nacional de Segurança de Fronteiras (PNSF), prevê integração entre as forças de segurança, um Gabinete de Gestão Integrada e a destinação de 30% do Fundo Nacional de Segurança Pública para ações na fronteira. O texto ainda tramita em comissões antes de seguir ao Senado.
O presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, Filipe Barros (PL-PR), critica a situação atual e atribui o problema ao sucateamento proposital das Forças Armadas.
“As fronteiras estão esquecidas, e o crime organizado avança. O enfraquecimento das nossas forças abriu espaço para que facções operem como verdadeiros ecossistemas criminosos”, afirmou.
Enquanto as discussões avançam em Brasília, a realidade nas fronteiras continua sendo um dos maiores desafios à segurança nacional, com impacto direto no crescimento do tráfico e da violência urbana em todo o país.