O primeiro dia de atividades da Assembleia Itinerante, em Lages, nesta terça-feira, foi extremamente animado durante a sessão ordinária. Os deputados de esquerda sustentaram a necessidade da instalação de uma CPI, Comissão Parlamentar de Inquérito, para investigar supostas irregularidades no governo do Estado.
Referem-se, evidentemente, a reportagem publicada pelo jornal O Globo, na semana passada, sobre telemedicina, que foi uma parceria estabelecida de forma preliminar pela administração estadual com uma empresa do Piauí.
Mas o contrato não foi assinado. Recursos de espécie alguma saíram dos cofres públicos. Com base na lei das estatais, foi viabilizada uma modelagem de parceria. Algo ainda no princípio, mas que, uma vez assinado o contrato, poderia implicar em recursos da ordem de quase R$ 700 milhões. O governo do estado, inclusive, decidiu suspender essa parceria.
Tanto essa quanto outras que estavam em andamento com a mesma modelagem. Mas, convenhamos, envolvendo muitos recursos, isso foi conduzido de forma equivocada. Não teve a devida transparência, não foi cristalino o processo.
Pela imprensa
A sociedade catarinense tomou conhecimento pela reportagem. Ou seja, o processo foi mal conduzido pelo governo. Registre-se, contudo, que, pelo menos, num recuo estratégico, a administração zerou tudo, aguardando uma orientação tanto do Tribunal de Contas do Estado quanto do Ministério Público Estadual. Instituições que, aliás, já deveriam ter sido consultadas antes destas formalizações, antes destes encaminhamentos.
Derrapada
O governo errou, praticou um deslize, mas puxou o freio de arrumação. Perfeito. Daí nesse momento vem a esquerda querer CPI.
Dúvidas
CPI de quê? Pra quê? Estão querendo o terceiro turno, por acaso? Depois da sova que levaram nas urnas, onde em Santa Catarina apenas o PT elegeu prefeitos, em número de sete. E todos em municípios pequenos.
Zerados
Considerando-se as 295 prefeituras que estavam em disputa, nenhum outro partido canhoto elegeu sequer um prefeito. Nem PSOL, nem PCdoB, nem Rede, nem PV, nem PDT, nem ninguém. Agora querem uma CPI pra investigar o quê? Qual é o fato concreto? Qual é o fato determinante? Ora, é tudo apenas politicagem.
Erro
Onde o governo errou? Claro que errou. Reconheceu o erro e recuou. Não que tenha praticado ilegalidade? Não se trata disso.
Legal e moral
Não a praticou, a ilegalidade, mas sobre o aspecto da moralidade administrativa, que exige publicidade, transparência, a gestão atual pisou na bola. Uma vez alertado pelo jornal O Globo, o Centro Administrativo colocou ordem na casa.
Lição
E numa próxima vez a administração estadual tem que ter em mente que processos como esses, mesmo que tenham dispensa de licitação, precisam ser pilotados de forma absolutamente transparente, com a sociedade acompanhando o seu andamento, através dos veículos de comunicação. Simples assim.
Talvez no final desta semana ocorra a definição de uma participação mais ampliada do MDB no governo Jorginho Mello. O governador quer porque quer Antídio Lunelli e Carlos Chiodini no primeiro escalão.
São dois nomes emedebistas de Jaraguá do Sul. Tudo leva a crer que a presença deles no secretariado será anunciada durante uma viagem de Jorginho Mello à cidade do Norte do estado. Ali, o empresário Jair Franzner, também emedebista, foi reeleito.
É bem verdade que Carlos Chiodini disputou a eleição em Itajaí, chegando em terceiro lugar, já que transferiu o seu domicílio eleitoral para aquela que é a cidade com o maior PIB em Santa Catarina.
Mas qual a ideia da presença dos dois no colegiado? Primeiro dar mais peso ao primeiro escalão da gestão estadual. Afinal de contas, Antídio Lunelli é um empresário vitorioso. Foi duas vezes prefeito de Jaraguá do Sul; ajudou na reeleição daquele que foi seu vice e que assumiu a prefeitura com a eleição do próprio Antídio à Assembleia em 2022, aliás, fazendo a terceira maior votação do Estado e a maior do MDB.
Trânsito
Carlos Chiodini, também deputado federal reeleito, é um quadro que ganha espaço em Brasília. Conversa bem, é articulado. Trouxe recursos, especialmente para a área de infraestrutura, transportes, através do seu acesso ao ministro Renan Filho.
Direita
O que, curiosamente, o deixou muito visado à luz da opinião pública catarinense, essencialmente conservadora, até bolsonarista. Mas, vamos ficar no contexto conservador.
Lado errado
É perceptível que essa interlocução que Chiodini possui com o governo Lula, de alguma maneira, fez com que lideranças do próprio MDB, que ele preside, mas está momentaneamente de licença, torcessem o nariz.
Base
Por isso, a permanência dele em Santa Catarina tem, também, como objetivo consolidar a sua presença em Itajaí, onde já fixou residência, bem como potencializar seu projeto de reeleição.
Direita, volver
Aliás, projeto esse em torno do qual Itajaí terá um papel fundamental, mas também será importante uma maior vinculação de Chiodini com o governo estadual, que é liberal, na figura de Jorginho Mello, intimamente ligado a Jair Bolsonaro.
Canal
Carlos Chiodini permanecendo em Santa Catarina, além de buscar essa aproximação maior com as lideranças conservadoras de dentro e de fora do MDB, ele também poderá fazer uma interlocução em favor do governo Jorginho Mello em Brasília pelos canais que abriu nessa primeira metade da legislatura.
Liberal
Mas, os movimentos serão na direção de não se vincular ao governo do PT e sim ao governo Jorginho Mello. Como o governador quer distância de Lula e da Silva; não pretende bater uma foto sequer com ele antes das eleições de 2026, aí a missão que seria cumprida por Carlos Chiodini, que teria o desafio e o compromisso de trazer recursos federais da União para Santa Catarina, apesar do distanciamento do governador em relação ao presidente da República.
Bem encaminhado
Tudo leva a crer que Chiodini venha a assumir posição no colegiado. Se não for a Secretaria de Economia Verde e Meio Ambiente, quem sabe a de Segurança Pública. E além do trabalho técnico na pasta que assumir, ele faria também esse trabalho político de aproximação entre as duas esferas de poder.
Blog do Prisco
Começou no jornalismo em 1980, no jornal O Estado. Atuou em diversos veículos de comunicação: repórter no Jornal de Santa Catarina, colunista no Jornal A Notícia e comentarista na RBS TV, TV RECORD, Itapema FM, CBN Diário e Radio Eldorado. Comenta diariamente em algumas rádios e publica sua coluna do dia em alguns jornais do Estado. Estreou em março de 2015, nas redes sociais e está no ar com o Blog do Prisco.