Não movem moinhos. O dito popular é antigo. Mas segue valendo. Senão, vejamos. Na segunda metade da década de 1980, Santa Catarina vivenciou uma situação que marcou época, envolvendo a figura de Vilson Pedro Kleinübing. O falecido político cresceu no Oeste, especialmente na cidade de Videira, e depois fixou-se em Florianópolis.
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Na eleição de 1986, após ter exercido um mandato de deputado federal, eleito em 1982 quando foi recordista de votos – foi o primeiro a suplantar a casa dos 100 mil sufrágios –, ele era o nome para suceder seu amigo Esperidião Amin, que conquistou o governo também em 82.
Quatro anos depois, encerrando-se o mandato de Amin, ele encontrou dificuldades para viabilizar o nome de Kleinübing – que foi seu secretário de Agricultura e nem chegou a assumir em Brasília.
A dificuldade foi criada por Henrique Córdova, que foi vice-governador de Jorge Bornhausen, e colocou o bloco na rua.
Amin ficou engessado, imobilizado ante a movimentação de Córdova. Tentou, ainda, emplacar o também deputado Artenir Werner. Kleinübing nem foi para a disputa interna no partido. Artenir perdeu para Henrique Córdova, que depois desistiu da candidatura. Amin ficou no pincel.
Vai tu mesmo
O então governador pegou seu líder do governo, o deputado estadual Amílcar Gazaniga, ex-prefeito de Itajaí, para ser o candidato do extinto PDS.
Endereço
Nesse momento, Vilson Kleinübing migrou para o PFL, aceitando convite de Jorge Bornhausen, que presidia a sigla no plano nacional. E concorreu ao governo. Contra Gazaniga e contra o favorito Pedro Ivo Campos (MDB), que levou a eleição. Vilson Pedro ficou em segundo, com 551 mil votos. Conquistou grande votação em Blumenau, por sua origem germânica.
Alemão
Em 1987, Kleinübing transferiu seu domicílio eleitoral para Blumenau. Em 1988, elegeu-se prefeito da Capital do Vale. Nos anos 2000, tivemos uma situação semelhante envolvendo Dário Berger, curiosamente também de origem germânica. Depois de cumprir dois mandatos de prefeito de São José, Berger atravessou a ponte e conquistou duas vezes a prefeitura da Capital.
Nem na trave
Logo depois, em 2006, reeleito governador, Luiz Henrique da Silveira tentou fazer o mesmo em Joinville. Ele trouxe o ex-prefeito de Rio Negrinho (cidade próxima à Manchester catarinense), Mauro Mariani, para ser o nome do MDB. Mariani ficou em quarto lugar, perdendo inclusive para Kennedy Nunes, à época filiado ao PP. Carlito Mers, do PT, foi quem levou a melhor sobre Darci de Matos no segundo turno do pleito de 2008.
Italiano “pexero”
Agora observa-se uma movimentação em torno de uma candidatura de fora de Itajaí. Cidade que hoje disputa, palmo a palmo com Joinville, o maior PIB catarinense. Mesmo com o porto fechado há quase um ano, está em primeiro lugar neste quesito dentre os 295 municípios. Suplantou a maior cidade do estado no contexto econômico.
Fim de carreira
Ali, temos Volnei Morastoni completando o segundo mandato. Não pode, portanto, disputar a reeleição. O MDB não tem nome natural na cidade.
E as candidaturas que estão postas são de figuras que não transmitem muita segurança à iniciativa privada itajaiense.
Sinais de fumaça
Começou então a conversa de que setores empresariais estariam estimulando o deputado federal Carlos Chiodini, que preside o MDB no estado, a ser o candidato do partido em Itajaí.
Ele é de Jaraguá do Sul. O estimulam a trocar de endereço eleitoral para estar apto à disputa.
Memória
Situação que faz o colunista lembrar um episódio semelhante na sucessão de Jandir Bellini, ex-prefeito da mesma Itajaí. Lá em 2016, Bellini contava com uma candidatura de Paulinho Bornhausen à sua sucessão. Jorge Bornhausen, o pai, sempre foi contra. Na undécima hora, Paulinho bateu em retirada, deixando o então prefeito em maus lençóis.
Não tem tu
Jandir Bellini teve que buscar o advogado João Paulo Bastos para ser o candidato, ele que agora se apresenta como alternativa pelo pelo PT.
Conexões
Em 2024 estão querendo conceber uma candidatura de fora para Itajaí porque Carlos Chiodini tem atuado muito junto ao ministro Renan Calheiros Filho (Transportes) e de outras áreas da União, tentando desembaraçar a situação do Porto de Itajaí.
Sério?
Pelo visto, o próprio deputado já admite essa hipótese. Loucura completa, devaneio. O colunista duvida que Chiodini vá até o fim com essa aventura. Será qualificado de forasteiro. Não há a menor perspectiva dessa candidatura vingar.
Itália e Portugal
Imaginem o cidadão sair de Jaraguá para Itajaí. Claro que esse balão de ensaio mostra que o presidente estadual do MDB já está de olho, quem sabe, num projeto estadual para 2030. Primeiro, disputando e segundo elegendo-se em Itajaí – hipótese mais do que remota – neste ano para buscar a reeleição em 2028. A partir daí, sim, poderia tentar viabilizar uma candidatura ao Senado ou ao governo daqui a seis anos.
Calendário
Seria um projeto de médio prazo. Observemos. Mas tem tudo para ficar no contexto embrionário. Chiodini até vai tentar. Vai colocar o nome na rua, na pesquisa e ele vai observar que aquilo que ocorreu no passado já não é mais possível nos dias de hoje.
A posse dos novos integrantes do primeiro e segundo escalões do governo Jorginho Mello, realizada nesta quarta-feira, 10, já apresentou uma defecção.
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Na verdade, a investidura estava prevista para segunda-feira, 8. Data que acabou não se consumando em função de uma liminar que, temporariamente, impediu a posse do advogado Filipe Mello, filho caçula do governador, como secretário da Casa Civil.
Na própria segunda-feira, a decisão foi derrubada. O fato é que Filipe, mesmo liberado pela Justiça, anunciou na terça-feira, no fim do dia, que não assumiria. Não se sabe exatamente se por essa situação de imbróglio judicial ou se por uma melhor reflexão do governador e de seu filho.
O advogado escalou a tribuna das redes sociais para anunciar que continuaria contribuindo com o governo do pai, Jorginho Mello, mas sem assumir cargo algum. Como já vem ocorrendo e como ocorreu ao longo de todo o exercício 2023.
Risco calculado?
Neste espaço já havíamos registrado que a indicação e posse de Filipe Mello na Casa Civil constituía-se numa operação de elevadíssimo risco. Ele até poderia ter uma bela performance à frente da pasta. Azeitar bem as relações do Executivo com o Legislativo. E considerando sua formação em Direito, desfrutaria de bom trânsito no Judiciário, Ministério Público, Tribunal de Contas e por aí vai.
Potencial
Claro que isso tudo, em tese, potencializaria política e administrativamente com vistas às pretensões eleitorais de recondução de Jorginho Mello em 2026. Entretanto, na eventualidade de um desgaste de Filipe no exercício da Casa Civil, isso repercutiria diretamente na figura do governador. Inapelavelmente.
Avaliando
O que pode ter motivado uma melhor reflexão por parte da família e chegaram à conclusão de que seria melhor deixar tudo como está.
Timing
Tudo isso ocorreu a menos de 12 horas da posse conjunta dos novos integrantes do primeiro e segundo escalões do governo.
Canja de galinha
Observou-se, portanto, grande cautela por parte dos Mello. O advogado seria o novo homem forte do governo, uma espécie de eminência parda. Mas isso poderia custar muito caro a Jorginho no caso de um insucesso de seu caçula à frente da Casa Civil, o que levou-os a puxar o freio de arrumação. Mas Filipe continuará desempenhando papel estratégico no governo.
Lembrar é viver
Até porque, não custa lembrar, há aquela passagem, já relatada pelo blogueiro em outras oportunidades, que é didática em situações como essa. Em 1982, André Franco Montoro foi eleito governador de São Paulo, no ano que marcou o retorno das eleições diretas para os mandatários estaduais.
Senado
Ele havia sido eleito senador por SP em 78. Ou seja, Montoro renunciou ao mandato na Câmara Alta. Quem assumiu – na época não existia a figura do suplente – foi Fernando Henrique Cardoso, o segundo mais votado. Abre parêntese. FHC foi apoiado, à época, pelo então sindicalista Lula da Silva, que ainda não havia fundado o PT com seus camaradas, o que ocorreu em 1979. Fecha parêntese.
Andrezinho
Naqueles dias, Franco Montoro chamou o sociólogo Fernando Henrique – uma figura com a qual os emedebistas se aconselhavam – para ouvir dele o que achava da possibilidade de nomeação de seu filho, Andrezinho, para a Casa Civil paulista.
André e Fernando
Montoro chamava FHC de Fernando e Fernando chamava Montoro de André. Fernando disse a André uma frase basilar: o problema não é nomeá-lo. O problema é quando você precisar demiti-lo.
Escorregou
Foi exatamente o que ocorreu. Andrezinho atritou-se com os deputados da Alesp e o pai não teve opção a não ser exonerá-lo. Além do desgaste político, isso rachou a família Montoro.
JKB
Essa história foi relatada por FHC, no plenário do Senado, ao então senador catarinense Jorge Bornhausen.
Talvez o exemplo do século passado na família paulista tenha inspirado Jorginho e Filipe a recuarem.
Blog do Prisco
Começou no jornalismo em 1980, no jornal O Estado. Atuou em diversos veículos de comunicação: repórter no Jornal de Santa Catarina, colunista no Jornal A Notícia e comentarista na RBS TV, TV RECORD, Itapema FM, CBN Diário e Radio Eldorado. Comenta diariamente em algumas rádios e publica sua coluna do dia em alguns jornais do Estado. Estreou em março de 2015, nas redes sociais e está no ar com o Blog do Prisco.