A imagem do prefeito de Seara inaugurando uma rua e comemorando o ato andando de carrinho de rolimã e dando um cavalo de pau, é de enaltecer o velho jargão local: “Pelo amor de Deus, gente”! É possível enxergar ali um gesto até simpático para alguns. Mas também é inevitável que a cena provoque reflexão — e, em muitos casos, perplexidade.
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Com todo o respeito ao cargo e à pessoa, o episódio escancara algo maior. Seara parece carecer de mais visão estratégica e menos simbolismos. Asfalto é obrigação básica de qualquer gestão pública. Não é feito extraordinário e não é obra transformadora para motivo de espetáculo. É o mínimo esperado.
Falo como alguém que é da cidade, mas não mora nela e que com frequência nela está. E é justamente aí que mora a frustração — ao longo dos anos, a percepção é de que Seara pouco avançou. Qual é o projeto de desenvolvimento econômico do município? Qual é a ação em tecnologia, inovação, atração de novos negócios, solução para conter as crises hídricas que assolam o município com intensidade nesses períodos de Verão?
Seara abriga empresas economicamente fortes, gera renda alta e tem potencial evidente. Ainda assim, a cidade parece ter estacionado no tempo. Praças públicas descuidadas, canteiros centrais deteriorados, áreas urbanas que não refletem a força econômica que o município possui. Falta planejamento urbano e ambição coletiva.
Governar não é apenas executar obras pontuais ou celebrar o básico com gestos performáticos. Governar é projetar o futuro. É pensar onde a cidade estará daqui a 10, 20 anos. É transformar riqueza econômica em qualidade urbana, inovação, oportunidades e orgulho para quem vive ali — e para quem saiu, mas ainda se importa.
A cena do carrinho de rolimã, confesso, causa riso. Talvez até mais do que deveria. Mas o riso, neste caso, vem acompanhado de preocupação. Porque enquanto se brinca na inauguração do essencial — o desenvolvimento real do município — segue sem resposta clara.
Seara merece mais. Merece ousadia, planejamento e visão. Merece um governo que faça do básico apenas o ponto de partida, não o ápice da gestão.
Blog do Bordignon
Em 2004, colou grau em jornalismo pela Universidade do Sul de Santa Catarina. É editor da edição impressa da Revista Única e, dos portais, www.lerunica.com.br e www.portal49.com.br.
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