Cidades como Florianópolis, São José e Balneário Camboriú estão no topo do ranking nacional;
Santa Catarina é o estado com maior consumo de alimentos ultraprocessados do Brasil, segundo levantamento realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP).
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A pesquisa revela que as três cidades com maior ingestão calórica desse tipo de produto são Florianópolis (30,5%), São José (28,3%) e Balneário Camboriú (27,8%).
O estudo, conduzido pelo Nupens (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde) da USP, analisou dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017–2018 e do Censo Demográfico de 2010, abrangendo todos os 5.570 municípios brasileiros.
Apesar de serem cidades com alto índice de desenvolvimento humano (IDH) e renda média elevada, os catarinenses estão consumindo cada vez mais produtos como refrigerantes, biscoitos recheados, salgadinhos e alimentos prontos, ricos em conservantes, corantes e aditivos químicos.
A nutricionista e doutora em Saúde Coletiva Raquel Kerpel aponta que o fenômeno é multifatorial e vai além do poder aquisitivo. “A renda mais alta, associada à urbanização e à influência do marketing alimentar, cria um ambiente favorável ao consumo desses produtos”, explica.
Kerpel também chama atenção para os chamados “pântanos alimentares”, locais onde há grande concentração de fast foods e oferta limitada de alimentos frescos, mesmo em cidades ricas. A presença de alegações como “sem glúten” ou “rico em fibras” em produtos ultraprocessados também contribui para um falso senso de saudabilidade.
Além do impacto nutricional, o alto consumo desses alimentos está relacionado ao aumento de doenças crônicas, como obesidade, diabetes tipo 2 e problemas cardiovasculares — o que gera preocupação para o sistema de saúde pública.
A especialista defende que o enfrentamento da situação deve passar por políticas públicas estruturantes, como a ampliação do acesso a alimentos in natura, regulação da publicidade de alimentos ultraprocessados e ações de educação alimentar. Cidades como Florianópolis e São José já integram o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), mas o desafio ainda é grande.
“Precisamos de mudanças no ambiente alimentar, e não apenas de decisões individuais. É um problema de saúde coletiva”, reforça Raquel.
O estudo reforça o alerta para a necessidade urgente de transformação nos hábitos alimentares e na estrutura alimentar urbana em Santa Catarina — o estado que, ironicamente, ostenta altos índices de qualidade de vida, mas que enfrenta um problema crescente à mesa.