No pleito de 2018, Décio Lima, do PT, foi candidato ao governo do Estado. Sua votação? Bisonha. Não tinha sequer um partido coligado com ele.
Em 2022, o vermelho já chegou para a disputa respaldado por todos os partidos de esquerda, além do PCdoB e do PV, que hoje fazem parte da federação com o PT. Ou seja, agregou também o PDT, o PSB, o PSOL, a Rede Sustentabilidade e daí por diante.
O petista conseguiu, assim, chegar ao segundo turno. Por pequena margem de vantagem em relação ao então governador Carlos Moisés. Mas não foi porque formou dobradinha com Lula da Silva, duas vezes presidente, que — depois de preso — concorreu a um terceiro mandato, que o catarinense carimbou passaporte ao segundo turno em Santa Catarina.
Foi pela pulverização de candidaturas conservadoras. Já registramos isso aqui várias vezes. Além do próprio Moisés, também concorreram Odacir Tramontin, do Novo; Gean Loureiro, do União Brasil; Esperidião Amin, do PP; e, finalmente, Jorginho Mello, do PL — o outro candidato que conquistou a vaga na grande final, também disputando sem nenhuma aliança, repetindo Décio Lima em 2018, só que abrigado no PL, partido de Jair Bolsonaro, que o apoiou.
Corrosão
E para 2026, qual é o projeto do PT e dos partidos de esquerda?
Considerando-se o desgaste brutal do governo Lula III, já é perceptível o movimento de algumas siglas à esquerda buscando caminhos alternativos.
Ser ou não ser?
Primeiro, porque não há nenhuma segurança de que Décio Lima virá para uma terceira candidatura consecutiva.
E mesmo que venha, Lula, que em 2022 — apesar da condenação e da prisão — ainda tinha um certo glamour, não o terá em 2026, caso concorra a um quarto mandato.
Dúvida
Caso não dispute, isso poderá aprofundar o sentimento, nos partidos de esquerda, de que não é um bom negócio estar com o PT.
É real a possibilidade de Décio Lima ser candidato ao Senado, a uma das duas vagas.
Xadrez
Então, independentemente dessas variáveis nacionais e estaduais de candidaturas de Lula e de Décio, a grande verdade é que se constituiria numa fria para partidos como o PDT, o PSOL e até o PSB buscar entendimento com o PT. É evidente.
Socialista
Quem garante que o vice, Geraldo Alckmin, continuará na chapa nacional como vice na disputa presidencial?
O PT já está querendo empurrá-lo para uma candidatura ao governo ou ao Senado em São Paulo, para liberar a vaga de quem vai dobrar com Lula ou com o candidato que o PT lançará.
Divisão
Então, muito provavelmente, teremos uma segunda ou até uma terceira candidatura de esquerda.
Os canhotos podem seguir caminho solo em Santa Catarina. O PDT e o PSB poderão estar juntos — ou os três numa grande coligação, considerando o PSOL.
União que dependerá do projeto proporcional de cada partido.
Estratégia
A eleição de deputados, seja estadual quanto federal, é fundamental.
A Câmara Federal é algo primordial.
O número de cadeiras de cada sigla ou federação define os valores dos fundos partidário e eleitoral, bem como serve de referência para o tempo de propaganda de rádio e televisão.
Vem chumbo
Em Santa Catarina, o PT é bom ir colocando as barbas de molho, porque vai enfrentar uma situação eleitoral absolutamente desafiadora.
Era meados da década de 1980, quando da investidura de Zé Sarney na Presidência da República.
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Nos dois, três primeiros meses, ele estava no cargo como interino, afinal, Tancredo Neves convalescia depois de uma sequência de cirurgias e veio a falecer em 21 de abril, quando Sarney foi confirmado no cargo.
E lá ficou por cinco anos.
Fernando Henrique Cardoso, à época senador por São Paulo, cunhou uma frase célebre, muito badalada, que dizia aos veículos de comunicação: “A crise viajou.”
Referia-se, claro, ao presidente, que teve que conviver, num determinado momento — na reta final do seu governo, antes das eleições de Fernando Collor e da transmissão da máquina federal ao representante de Alagoas — com uma inflação que chegou a 80% ao mês.
Lucidez
Hoje, Zé Sarney, lúcido e com boa saúde, está com 95 anos.
Fernando Henrique Cardoso, verdade seja dita, está fora de circulação. Parece um tanto abalado e comprometido no aspecto cognitivo, aos 94 anos.
Turismo
Lula não para de viajar.
Em dois anos e meio de governo — portanto, 30 meses —, quatro deles, ou seja, 120 dias, ele passou fora do país.
Em viagens internacionais, o ídolo vermelho completou 50 incursões, com essa agora para o G7, no Canadá.
Bolada
Coincidentemente, nesse período, só com transporte aéreo e hospedagens em luxuosas suítes, foram despendidos R$ 50 milhões.
Do meu, do seu, do nosso bolso.
Repeteco
Dá o que pensar. Será que outra liderança poderia se apropriar da frase de FHC?
“A crise viajou.”
Só que, agora, ela viaja, mas os problemas continuam aqui — exatamente como aconteceu com Zé Sarney.
Em sequência
Veja que o líder esquerdista voltou de uma viagem de uma semana à França, ficou menos de quatro ou cinco dias no Brasil, e rumou para o Canadá.
Com um detalhe: enquanto ele se deslocava para o país da América do Norte, a Câmara dos Deputados se reunia para aprovar o regime de urgência relativo à criação de impostos, particularmente o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Revés
Ocorre que o governo não conseguiu sensibilizar a Câmara dos Deputados, e resolveu enfiar goela abaixo, editando medidas provisórias.
Houve reação imediata da Câmara, na figura do próprio presidente Hugo Motta.
Cara de paisagem
Quando Lula viajou, sabia da votação.
Motta até assumiu o compromisso de não colocar em votação o mérito, mas votaria o regime de urgência — que, uma vez aprovado, dispensa tramitação nas comissões.
A qualquer momento, o plenário pode se reunir para derrubar, naturalmente, as medidas provisórias com majoração de impostos.
João bobo
Mesmo sabendo disso, Lula viajou e fez um belíssimo papel de bobo da corte ante os holofotes internacionais.
Seus ministros estratégicos sequer estavam em Brasília.
Bem longe
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, correu para São Paulo.
O da Casa Civil, Rui Costa, viajou para sua terrinha natal, a Bahia.
Ou seja: existe uma desarticulação absoluta do governo, dando a sensação de que é uma gestão já em modo “apagar das luzes”.
Ou seja: o próprio desgoverno.
Lavada
Na aprovação do regime de urgência, por 346 votos dos 513 deputados, tivemos uma votação expressiva contra o governo.
Desses 346 votos, uma grande quantidade veio de bancadas partidárias hoje representadas na Esplanada dos Ministérios.
Com 11 ministros. Dessas bancadas, 65% dos deputados votaram a favor do regime de urgência.
Fim da linha
Ou seja, o governo Lula está para lá de Bagdá.
A impressão que se tem é que não há mais esperança de reversão do quadro delicadíssimo sob os aspectos econômico e financeiro.
Blog do Prisco
Começou no jornalismo em 1980, no jornal O Estado. Atuou em diversos veículos de comunicação: repórter no Jornal de Santa Catarina, colunista no Jornal A Notícia e comentarista na RBS TV, TV RECORD, Itapema FM, CBN Diário e Radio Eldorado. Comenta diariamente em algumas rádios e publica sua coluna do dia em alguns jornais do Estado. Estreou em março de 2015, nas redes sociais e está no ar com o Blog do Prisco.