Indiscutivelmente, a notícia política da semana passada em Santa Catarina foi a declaração do prefeito reeleito de Joinville, Adriano Silva (Novo), em evento com empresários, diante do próprio governador, quando disse, muito claramente, que estaria junto com Jorginho Mello.
O prefeito ressaltou que os dois são parceiros no contexto administrativo e institucional. Adriano Silva, registre-se, não veio a público fazer nenhuma retificação da sua manifestação.
Alguns integrantes do Novo, inclusive o presidente nacional, que é catarinense, apareceram aqui e ali com colocações no sentido de que o Novo é um partido diferente, segue uma orientação pré-estabelecida e tudo o mais.
Mas a grande verdade é que essa declaração não deixou dúvidas de que a intenção, na pior das hipóteses, de Adriano é estar na reeleição de Jorginho Mello.
Namoro
O governador, aliás, havia convidado Adriano Silva para concorrer à reeleição pelo PL em 2022. Ele declinou. Neste contexto, o governador mudou a proposta: “você fica no Novo, mas o vice é do PL.” Algo que acabou ocorrendo na Capital, com Topázio Silveira Neto, também reeleito no primeiro turno, mas pelo PSD, só que uma margem praticamente 20% menor do que a do joinvilense.
Articulação
O que se observa no tabuleiro pré-eleitoral neste momento? Jorginho Mello se articulou. Por mais que o Novo seja um partido diferenciado e com práticas internas diferentes, o governador catarinense tem Romeu Zema como seu colega.
Colegiado
Eles fazem parte do consórcio Sul e Sudeste e estão sempre interagindo. Não resta a menor dúvida que, além dessa articulação, de fora para dentro, o principal foram as conversas entre Jorginho e Adriano. Afinal de contas, o prefeito de Joinville é uma grata revelação da política, um jovem empresário bem-sucedido que se elegeu prefeito pelos seus próprios méritos.
Tratoraço
E a reeleição veio pela sua eficiente gestão, inquestionável. Sargento Lima foi lançado candidato contra Adriano, mas Jorginho Mello, se esteve em Joinville duas ou três vezes, o fez de forma absolutamente discreta. E Jair Bolsonaro não compareceu durante a campanha no maior e principal município catarinense.
Sinalizando
Isso tudo são sinais nas entrelinhas, que foram dados no passado recente. E aí vem, naturalmente, uma especulação pertinente. Ora, quem garante que daqui a pouco Jorginho Mello não acenou com uma vaga na majoritária para o Novo?
Nome
Talvez o espaço tenha sido franqueado para o próprio Adriano, embora ele diga que vai completar o mandato, o segundo. Mas se não for ele o nome em 2026, a vaga poderá ser para alguém indicado por ele, numa candidatura ao Senado ou à vice.
Perspectivas
Vale lembrar que o pleito majoritário do ano que vem terá quatro posições. Uma única está preenchida, que é a cabeça de chapa com o próprio Jorginho Mello.
Percentual
Ora, o Novo e Adriano Silva sabem perfeitamente que a média de reeleição para candidatos à presidência, aos governos e às prefeituras é de 80%. Então, uma vez que Jorginho Mello seja reeleito, se alguém do Novo, indicado por Adriano ou o próprio Adriano, estiver na chapa, por exemplo, ao Senado ou mesmo à vice, poderia receber o apoio do governador lá na sua sucessão em 2030.
Água fria
Com esse movimento, Jorginho Mello dá um chega para lá em outros partidos que poderiam se candidatar a um projeto futuro de sucessão, lá em 2030, e traz consigo partidos indispensáveis. Essa semana terá definição do MDB, que muito provavelmente vai continuar com o Jorginho, assim como o PP. Então, acabam muito restritas as alternativas de aliança do outro lado.
O Supremo Tribunal Federal deliberou que a composição das bancadas estaduais na Câmara dos Deputados precisa ser modificada, ajustada, com base nas variações demográficas dos respectivos estados. Com essa deliberação, a Câmara terá que se manifestar até meados do ano. Se o Parlamento não o fizer, caberá ao STF ou mesmo ao TSE tomar a decisão.
No cálculo feito pela Justiça, alguns estados perdem cadeiras e outros ganham. Os dois estados mais bem contemplados, porque tiveram um avanço populacional considerável, são: no Norte, o Pará; e no Sul, Santa Catarina, que passaria de 16 para 20 deputados federais.
Ou seja, SC teria mais quatro vagas. O estado vizinho do Rio Grande do Sul perderia dois deputados; o Paraná manteria a sua representação. Só que os estados prejudicados buscam uma compensação, ou, na verdade, a preservação da sua representação.
E aí na Câmara já se fala em buscar um atalho, ampliando de 513 para 531 deputados em Brasília. Teríamos aí uma majoração de 18 cadeiras. Efetivamente, é algo que não dá para assimilar.
Digitais
Inclusive é o deputado catarinense Rafael Pezenti, do MDB, quem está capitaneando essa nova recontagem, digamos assim, do número de deputados por estados. E ele também é contrário, como não poderia ser diferente, ao aumento no número total de parlamentares.
Demais
Já é um absurdo nós termos uma Câmara de 513. Agora pular para 531, em um país com pouco mais de 200 milhões de habitantes, convenhamos.
Comparativo
Os Estados Unidos, com 335 milhões de habitantes, têm quase 80 representantes a menos do que o Brasil. Os EUA contam com 435 deputados. Não faz o menor sentido, portanto, essa nova investida. A nossa Câmara funcionaria perfeitamente com 250 deputados. No máximo.
Metade
Ou seja, estamos falando de uma linha de corte de no mínimo 50%. Isso economizaria despesas funcionais e pessoais aos cofres públicos. E não só na Câmara não, no Senado também.
Norte
Os Estados Unidos têm 50 estados e 100 senadores. São dois por estado. Simples assim. Claro que não pode ser apenas um, tem que ter a possibilidade do contraditório. Circunstancialmente, os dois estados podem escolher na mesma direção, mas têm a alternativa de optar por linhas diferentes.
Tripé
Nós temos 27 unidades federadas. Os 26 estados, e mais o Distrito Federal, que também tem representação no Senado. E três por estado, totalizando 81. Não precisamos disso tudo. Bastariam 54 senadores.
Lacuna
Na verdade, falta uma discussão ampla de reforma política, partidária e eleitoral; enxugar o número de partidos, isso é indispensável; acabar com essa excrescência do financiamento público de campanha. São quase R$ 10 bilhões de fundo partidário e eleitoral.
Sistema misto
Outro aspecto que precisa ser discutido é o sistema proporcional, que deveria ser misto, também com voto distrital nas eleições proporcionais, no caso, Câmara, Assembleia e Câmaras de Vereadores, pondo fim à farra que o brasileiro não aguenta mais.
Preços
Sobretudo num momento como esse, em que o poder aquisitivo dos trabalhadores está sendo aniquilado, onde a espiral inflacionária deve disparar no segundo semestre, trazendo a queda na geração de empregos. Fica aqui a reflexão.
Blog do Prisco
Começou no jornalismo em 1980, no jornal O Estado. Atuou em diversos veículos de comunicação: repórter no Jornal de Santa Catarina, colunista no Jornal A Notícia e comentarista na RBS TV, TV RECORD, Itapema FM, CBN Diário e Radio Eldorado. Comenta diariamente em algumas rádios e publica sua coluna do dia em alguns jornais do Estado. Estreou em março de 2015, nas redes sociais e está no ar com o Blog do Prisco.