É impressionante como os veículos de comunicação, no Brasil, em sua esmagadora maioria, são seletivos. O ponto de convergência entre eles tem sido o Judiciário — mais precisamente, o Supremo Tribunal Federal. Ponto de identificação.
Essa é a grande verdade. O STF tem um tratamento quando se trata de personagens ou lideranças de esquerda; e outro, absolutamente distinto, em relação aos de direita.
Bolsonaro, enquanto presidente, era acossado pelo Supremo dia sim, dia também — impedido de agir aqui, obrigado a agir ali.
Pois bem, Lula da Silva caminha para o terceiro ano do seu terceiro mandato e... silêncio.
Nada. Nenhuma cobrança, nenhum limite. Liberdade que mais parece libertinagem.
Chega às raias da proteção escancarada.
Os rigores da lei — e, muitas vezes, muito além da lei — para quem é de direita.
E o relaxamento absoluto para os de esquerda. Liberou geral.
Viés
Simples assim.
É assim que a mídia tem se comportado: impulsionada por bilhões e bilhões de reais em verbas públicas — ou melhor: do meu, do seu, do nosso bolso.
Vamos ao exemplo mais recente: nesses dois dias em que parlamentares conservadores ocuparam as mesas diretoras da Câmara e do Senado...
Restrição
Particularmente, o articulista é contra esse tipo de conduta.
Obstrução é uma coisa. Está prevista no regimento.
Ocorre com o plenário em funcionamento: com uso do microfone, discursos, mecanismos legítimos para retardar ou dificultar a tramitação e votação de matérias.
Escandaloso
Mas, sem entrar no mérito: nesses dois dias em que a direita impediu o funcionamento das Casas Legislativas, a imprensa tratou o episódio como motim.
Passando pano
Curiosamente, lá por meados de 2018, quando o PT e os partidos de esquerda fizeram exatamente a mesma coisa — impediram votações, ergueram bandeiras, gritaram “Lula livre” — a narrativa foi outra.
E olhem que, à época, Lula estava preso, cumprindo pena na sede da Polícia Federal em Curitiba, por prática de corrupção e outros delitos.
Descondenaram
Aliás, foi condenado não só por Sérgio Moro, mas por unanimidade no TRF-4, que aumentou sua pena.
O despacho foi confirmado por cinco ministros do STJ, e avalizado pelo próprio Supremo Tribunal Federal.
Amenizaram
Fechando parênteses.
Naquela ocasião, qual foi o tratamento da mídia?
Obstrução. Apenas isso: “obstrução”.
País capenga
Vivemos, de fato, em um país curioso, onde o tratamento dispensado pelo Judiciário — na figura do STF — e pela mídia é dado conforme a tendência ideológica dos protagonistas.
Essa é a grande verdade. Essa é a realidade.
País ignorante
E a opinião pública brasileira precisa acordar.
Precisa desenvolver discernimento, sensibilidade para perceber esses “detalhes” — que de pequenos não têm nada.
Trata-se de um comportamento viciado, que visa manter no poder um segmento partidário e ideológico, custe o que custar.
Para mudar isso, só com consciência crítica, coragem para denunciar e disposição para reprovar o que precisa ser criticado.
Sem medo. Sem covardia. Sem censura.
Os senadores de oposição estão na iminência de protocolar o pedido de impeachment contra o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. Com 41 assinaturas, a peça será entregue ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre. A ele cabe colocá-la em plenário. Para discussão e posterior votação, ele não é obrigado a fazê-lo — é uma decisão única e exclusiva do presidente do Congresso Nacional.
É aquela velha máxima de que os presidentes do Senado e da Câmara têm poder demais, em um sistema presidencialista. Eles concentram mais força do que todos os demais integrantes de suas respectivas Casas.
Verdade que se torna ainda mais cristalina pela declaração do próprio Alcolumbre, de que não vai pautar o pedido de impeachment, mesmo com a maioria da Casa tendo subscrito a peça.
Alcolumbre tem essa prerrogativa, esse imenso poder. Mas, ele ficará em maus lençóis para engavetar mais esse pedido de impeachment — o 29º contra Alexandre, o diminuto. Outros 28 seguem na gaveta, inclusive alguns ainda do período do seu antecessor, Rodrigo Pacheco.
Panela de pressão
A expectativa é enorme. Como Davi Alcolumbre vai ignorar um pedido de impeachment assinado pela maioria dos senadores da República? Ou seja, por 41 parlamentares?
Aliás, na quarta-feira, mais dois senadores subscreveram o pedido — entre eles, a catarinense Ivete da Silveira. Mesmo assim, o senador se mostra irredutível. Com essa postura, Alcolumbre pode entrar definitivamente na mira de Trump via Lei Magnistky.
Porteira
Agora, se o processo for aberto, o que é bastante improvável, a história muda completamente.
Veja o caso do senador Ciro Nogueira, que disse não querer assinar porque “não vale a pena”, que “não vai dar em nada”, já que lá na frente “não se conseguirão as 54 assinaturas” necessárias para a cassação de uma toga do Supremo.
Ah, tá…
Ou seja: mesmo que o ministro mereça o impeachment, não se assina porque supostamente não haverá votos suficientes mais adiante? Conversa mole de quem deve (e deve muito) dentro do STF.
Ciro Nogueira, presidente nacional do PP, tem processos em curso no Supremo. Eis o motivo da cautela.
Abismo
Uma verdadeira vergonha, sobretudo quando se observa a atuação firme e coerente do seu correligionário catarinense, Esperidião Amin.
Descarrilando
Outro ponto: sempre que o pedido de impeachment é aberto, não há mais como segurar. Com a opinião pública pressionando, a imprensa cobrindo, e tudo vindo à luz do dia, o processo se torna irreversível.
Maré
Quem vai querer ficar contra uma onda que pode ganhar unanimidade nacional?
Foi assim com Collor e Dilma. Ambos cassados com apoio quase unânime dos deputados.
Habilidade
Michel Temer enfrentou dois pedidos de impeachment na Câmara. Todos foram rejeitados, ainda na fase inicial.
Porque, uma vez aberto o processo, ele segue para o Senado — onde ocorre o julgamento político, como no caso de Dilma e Collor.
Câmara Alta
No caso de Alexandre de Moraes, é diferente.
O processo começa e termina no Senado, onde os ministros do STF são sabatinados e aprovados — como foi o próprio Moraes, bem como os outros dez ministros da Corte.
Novidade
Esse pedido representa um ingrediente novo, um fato político indiscutível.
E mais: uma vez colocado em pauta e iniciado o julgamento no Senado, o ministro é afastado automaticamente até o fim do processo. Ao final, pode ser absolvido ou cassado. Mas isso tudo ainda está no campo das especulações, pois na vida real o presidente do Senado seguirá fazendo cara de paisagem, indiferente ao desejo da maioria na Casa.
Musculatura
Apesar da postura de Alcolumbre, é notório que a oposição está avançando sobre o Supremo — e também sobre o Planalto.
Porque hoje, STF e Planalto formam um só corpo. Um consórcio de poder, que tenta intimidar e acovardar o Congresso Nacional.
Blog do Prisco
Começou no jornalismo em 1980, no jornal O Estado. Atuou em diversos veículos de comunicação: repórter no Jornal de Santa Catarina, colunista no Jornal A Notícia e comentarista na RBS TV, TV RECORD, Itapema FM, CBN Diário e Radio Eldorado. Comenta diariamente em algumas rádios e publica sua coluna do dia em alguns jornais do Estado. Estreou em março de 2015, nas redes sociais e está no ar com o Blog do Prisco.