O secretário de governo de Tarcísio de Freitas, Gilberto Kassab, participou, nesta quarta-feira, em São Paulo, da Conferência Latino-Americana de Investimentos, promovida pela UBS. Em sua palestra, para um público seleto de economistas, mas, também, na presença de alguns poucos políticos, o presidente nacional do PSD fez duas alusões a Topázio Silveira Neto.
Quando indagado sobre as perspectivas do PSD, ele destacou alguns nomes, como o prefeito Eduardo Paes, do Rio de Janeiro; o governador Ratinho Júnior, do Paraná; e o prefeito Topázio Silveira Neto, de Santa Catarina.
Todos os três reeleitos. Paes e Topázio agora em 2024 e Ratinho em 2022. Essa observação feita por Kassab já havia ocorrido em outra entrevista, em novembro, quando ele citou exatamente esses três.
Longe do Oeste
Ou seja, a referência dele para o estado catarinense está no nome do prefeito da Capital. Simples assim. Em nenhum momento ele fez referência ao prefeito reeleito de Chapecó, com mais de 80% dos votos, João Rodrigues, que já se apresenta como pré-candidato e que será lançado formalmente em 22 de março, em Chapecó, data de seu aniversário.
Incógnita
Pergunta-se: Gilberto Kassab estará presente? Ele está ao par dessas articulações? Se estivesse e concordasse, teria citado o nome de João Rodrigues e não o fez propositalmente? Vale lembrar que Tarcísio de Freitas é do Republicanos, partido que, em Santa Catarina, está sob controle de Jorginho Mello, tendo à frente o deputado federal Jorge Goetten e também o seu irmão, Juca Mello.
Conexão
Outro detalhe: Jorginho interage muitíssimo bem com Tarcísio de Freitas. Ninguém tem a menor dúvida de que Topázio Silveira Neto está respaldando o projeto de recandidatura de Jorginho Mello. Ele mesmo já fez essa declaração em alto e bom som.
Conta própria
Isso faz com que possamos concluir que João Rodrigues está entrando no circuito, mas sem o respaldo de Gilberto Kassab e nem mesmo o apoio daquele que Kassab tem como referência em Santa Catarina, que é Topázio.
Discurso e prática
Neste contexto, poderá haver surpresas. De repente, João Rodrigues ou aceita concorrer ao Senado, na chapa encabeçada por Jorginho, num acordo do PSD com o PL em Santa Catarina, ou ele vai ter que buscar abrigo em outra sigla para concorrer ao governo do Estado.
Fator Bornhausen
É importante prestar atenção nesses sinais vindos de Gilberto Kassab, que, vale lembrar, foi criado na política e ganhou destaque pelas mãos do ex-governador e ex-senador Jorge Bornahusen, cujo filho, Paulinho, é secretário de quem? Jorginho Mello.
Depois da Revolução de 1964, que se esgotou na gestão do quinto general-presidente, João Batista de Oliveira Figueiredo, cujo mandato expirou em 1985, teríamos a investidura de Tancredo de Almeida Neves. Ele foi eleito em 1984 pelo Colégio Eleitoral, contra Paulo Salim Maluf. Mas, baixou hospital na véspera, 14 de março de 1985, e nunca pisou no Palácio do Planalto.
Foi substituído durante cinco anos pelo seu vice, José Sarney. A eleição para o restabelecimento do processo democrático brasileiro, no plano nacional, a primeira delas, depois da passagem dos militares pelo poder, durante 21 anos, ocorreu em 1989, com a eleição de Fernando Collor de Mello. Mas já em 1982 houve o restabelecimento das eleições diretas nos estados.
História
A última estadual tinha ocorrido em 1965, com a eleição do pessedista Ivo Silveira contra o udenista Antônio Carlos Konder Reis.
Tripé
Depois, houve governadores eleitos pela Assembleia. Pela ordem: Colombo Machado Salles, Konder Reis e Jorge Konder Bornhausen. Feita essa retrospectiva histórica, vamos dar uma mergulhada na questão regional de Santa Catarina. 40 anos foram necessários para que fosse eleito um governador do Oeste.
Portento
É de domínio público que o Oeste é uma região vigorosa, com um trabalhador catarinense dedicado, com um agronegócio consolidado. Mas, eleitoralmente, apesar de ali estarem 105 dos 295 municípios catarinenses, isso não coloca a região entre as mais importantes sob o aspecto eleitoral.
Pódio
Primeiro é o Vale do Itajaí; depois tem a Grande Florianópolis e, na sequência, o Norte do estado.
Onda
Em 2022, graças à onda Bolsonaro, no repeteco dela, pois a primeira foi em 2018, o catarinense elegeu Jorginho Mello, que é do Meio-Oeste. Foi o primeiro deles. Quem havia chegado muito perto foi Gelson Merisio em 2018.
Duas frentes
Ele era presidente da Assembleia; e o seu cunhado, Antônio Gavazzoni, secretário da Fazenda de Raimundo Colombo, que terceirizou o governo para Gavazzoni. Então, Merisio teve dois poderes à sua disposição. Se organizou e tinha tudo para ganhar a eleição.
Engolido
Mas acabou surpreendido pelo efeito Jair Bolsonaro. Numa eleição em que ele ganhou para a presidência da República e acabou elegendo, em SC, um governador que nunca tinha disputado uma eleição, mas que dispunha do 17 de Bolsonaro nas urnas. Foi assim que Carlos Moisés chegou lá. E Merisio ficou na estrada. Ele que é natural de Xanxerê.
Regional
Agora, olhando lá para 1982, quando Esperidião Amin foi eleito pela primeira vez, quem foi seu vice? Vitor Fontana. Empresário do Oeste. Depois, em 1986, Pedro Ivo, de Joinville, tinha quem como vice? Casildo Maldaner, do Oeste. O Oeste, portanto, sempre presente. Mas como coadjuvante.
Tampão
Como Pedro Ivo não completou o mandato, veio a falecer, Casildo ficou um ano como governador.
Vale
Chegamos a 1990, ano de Vilson Pedro Kleinübing, que começou na política em Videira, no Oeste, mas veio para Florianópolis, se elegeu prefeito em Blumenau e não possuía mais aquela vinculação com a região.
Estadual
Seu vice era Antônio Carlos Konder Reis, um nome estadualizado, mas que nasceu politicamente em Itajaí. Assim como a família Bornhausen.
Adoção
Na sequência, tivemos Paulo Afonso Vieira, em 1994. O emedebista nasceu no Piauí, mas fez política na Capital. E teve como vice José Augusto Hulse, de Criciúma.
Retorno
Em 1998, voltou Esperidião Amin, desta vez, tendo como vice Paulo Bauer, de Jaraguá do Sul. Em 2002, Luiz Henrique da Silveira, de Joinville, tendo como vice Eduardo Moreira, de Criciúma, venceu o pleito. Moreira foi substituído por Leonel Pavan, do Litoral Norte, quatro anos depois.
Serra
Com o fim da era LHS, SC elegeu Raimundo Colombo, da Serra, nos dois mandatos, com Moreira, do Sul, de vice.
Mandando
Tudo isso para dizer o seguinte: que em 2026 poderemos ter, pela primeira vez na história, duas candidaturas do Oeste, protagonizando uma disputa eleitoral em Santa Catarina. Em 2022, o Oeste finalmente chegou ao governo na figura de Jorginho Mello. E pode continuar. Ou com Jorginho, ou com o prefeito Chapecó, pré-candidato ao governo do Estado, João Rodrigues, do PSD.
Blog do Prisco
Começou no jornalismo em 1980, no jornal O Estado. Atuou em diversos veículos de comunicação: repórter no Jornal de Santa Catarina, colunista no Jornal A Notícia e comentarista na RBS TV, TV RECORD, Itapema FM, CBN Diário e Radio Eldorado. Comenta diariamente em algumas rádios e publica sua coluna do dia em alguns jornais do Estado. Estreou em março de 2015, nas redes sociais e está no ar com o Blog do Prisco.