Considerando-se a baixa adesão e a tímida representatividade do evento que marcou o lançamento da pré-candidatura de João Rodrigues ao governo do estado, internamente o PSD está fazendo suas avaliações.
Naturalmente, para o público externo, a mensagem é que foi um sucesso, que reuniu cinco mil pessoas. Pelo visto, contudo, foram de duas a três mil. No limite. Mas que tenha sido cinco mil. Tudo bem, aceitamos que tenha sido.
Estamos falando de um contingente que é possível mobilizar com ônibus acionados em vários municípios que foram deslocados até a Capital do Oeste. Mas o importante não é isso, e desde a semana passada temos batido nesta tecla.
O fundamental é saber da representatividade. Não é a quantidade, é a qualidade que realmente conta.
O nome nacional foi Ratinho Júnior, governador do Paraná, hoje pré-candidato à Presidência da República. Ok, é um bom nome.
Envergadura
Vamos para Jorge Konder Bornhausen, também uma referência catarinense que brilhou no país como presidente nacional do PFL por quase quinze anos; cumpriu dois mandatos de senador e também foi governador. É alguém que, mesmo sem mandato, continuou a ter protagonismo em Brasília, o que é raríssimo. Estamos falando ali da década de 90 e do início do novo milênio.
Reforço
A sua presença, claro, engrandece a caminhada de João Rodrigues, mas, sob o aspecto prático, ele não está mais na lida da política. JKB se afastou há um bom tempo, até pela idade avançada. Agora, vamos para as lideranças estaduais.
Dupla
Essas duas figuras nacionais, embora uma sendo de origem catarinense, foram o suficiente para o evento. Mas, nas estaduais, quem efetivamente marcou presença que possa sinalizar que a arrancada foi para valer? Os três estaduais do PSD, o único federal do partido, um federal do União Brasil e outros dois estaduais do PP e União Brasil. Seriam esses? Muito pouco, convenhamos, muito pouco.
Naco
Dos 16 federais, apenas dois; dos 40 estaduais, apenas cinco apareceram em Chapecó. Nenhum senador. A representatividade do MDB, do PP, do Novo, de todos esses partidos, deixou muito a desejar. Até a do Podemos e a do União Brasil não foi uma Brastemp.
Caseiro
Sem falar nas ausências de pessedistas, como Topázio Silveira Neto, que administra a Capital do estado, a principal base do PSD, e já comprometido com a recondução de Jorginho Mello.
Distância
O ex-governador de dois mandatos, ex-senador, deputado federal, deputado estadual, três vezes prefeito de Lages, Raimundo Colombo, não deu as caras. Assim também fez Leonel Pavan, prefeito de Camboriú, ex-governador, ex-senador.
Risco
O lançamento precoce dessa pré-candidatura será um desafio para João Rodrigues. O raciocínio é o seguinte: ele tinha que colocar o bloco na rua com antecedência para buscar visibilidade. Ok, mas antecipou demais.
Contexto
Não tem nem três meses do mandato de prefeito para o qual ele foi reeleito. Estamos ainda em março de 2025. E a eleição é em outubro de 2026. João Rodrigues precipitou a disputa sucessória sem necessidade e não vai levar vantagem nisso.
Força da máquina
Jorginho Mello está no governo, tem a máquina, tem a maioria das prefeituras do estado. Somente o PL administra 90 municípios. Sem falar nos outros partidos que têm prefeitos que vão estar com ele. Tem ainda Jair Bolsonaro como principal eleitor. Então, até que ponto ele vai conseguir, João Rodrigues, manter essa candidatura de pé até outubro do ano que vem? Essa é a incógnita.
Viés
João Rodrigues, embora tenha garantido que vai para o governo do estado, estaria aí para negociar uma candidatura ao Senado? Parece improvável, se não impossível. Porque o PL terá dois representantes na chapa majoritária. Como serão duas vagas ao Senado, são quatro posições. Só que duas, ou as duas do PL, já estão definidas.
Geografia
Jorginho Mello candidato à reeleição ao governo e Carol De Toni ao Senado. E ponto final. Carol, recordista de votos nas eleições proporcionais de 2022, com quase 250 mil votos para a Câmara, no ano passado presidiu a poderosa CCJ na Câmara e, este ano, vai atuar como líder da minoria na mesma Câmara dos Deputados. É um nome que será respaldado tanto por Bolsonaro quanto por Jorginho.
Ex-rivais
Sobram duas vagas. Uma tem que ir para o MDB e a outra entre o PP e o Novo. Não tem espaço para o PSD. Sem falar no componente regional. Ora, João Rodrigues ao Senado? Aí seriam três representantes do Oeste para quatro vagas? Impossível. Numa eventualidade de o PSD vir a integrar a chapa majoritária, teria que ser o nome de outra região.
O evento em Chapecó, sábado, consumou essa pretensão eleitoral. Um momento que teve uma estrela nacional, o governador reeleito do estado vizinho do Paraná, Ratinho Júnior, que é o nome do PSD à Presidência da República.
Outro nome, outro expoente presente, embora politicamente aposentado, mas que fez história não apenas em Santa Catarina, como no Brasil, foi o ex-governador e ex-senador Jorge Konder Bornahusen.
JKB lá estava e conseguiu arrancar, também, uma manifestação daquele que foi seu afilhado político, Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, que se manifestou a favor de João Rodrigues como nome ao governo do estado.
Agora, ao mesmo tempo, o curioso é que tinha um telão que abrilhantava e ilustrava o palco, onde, além de Ratinho, outros presidenciáveis como Romeu Zema, do Novo; Ronaldo Caiado, do União Brasil; Tarcísio de Freitas, do Republicanos e também Jair Bolsonaro, que mereceu uma menção de João Rodrigues no seu discurso.
Dúvida
Então, não ficou muito claro. Afinal, com quem está João Rodrigues? Se com um Bolsonaro, hoje inelegível, ou com Ratinho, que é pouco provável que concorra à presidência da República?
Siglas
De representação partidária, o União Brasil, com a figura do seu presidente, deputado federal Fábio Schiochet; um deputado estadual; e a do ex-prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro. Foram as três principais lideranças a marcarem presença. Mas, detalhe: outros dois deputados estaduais do União ignoraram olimpicamente o evento.
Ausências
Vamos para o Partido Novo. Nenhum dos três detentores de mandato se deslocou a Chapecó. Adriano Silva, prefeito reeleito de Joinville, o deputado federal, também reeleito, Gilson Marques, e o estadual Matheus Cadorin.
Solo
Lá esteve, mas não representando o Novo, Odair Tramontin que, nas últimas três disputas eleitorais, foi derrotado. Em 2020 e 2024, à Prefeitura de Blumenau e, no meio, em 2022, ao Governo do Estado.
Solo II
E do PP? A sigla esteve representada apenas por Altair Silva, que é deputado estadual, tendo como base Chapecó. Era previsível que lá estivesse. Silva declarou que os outros dois deputados também estão com João Rodrigues. Estamos falando de Zé Milton e Pepê Collaço, ambos do Sul do estado. Se estivessem no projeto de João Rodrigues, estariam, evidentemente, em Chapecó.
Números
Então, entre os 40 deputados estaduais, apenas cinco compareceram ao evento rodriguiano. Além de Altair e do representante do União, marcaram presença os três do PSD: Júlio Garcia, Mário Motta e Napoleão Bernardes.
Dupla
Dentre os 16 federais, apenas dois apareceram na foto. Fábio Schiochet, do UB, e o único do PSD, Ismael dos Santos.
Não foram
Se olharmos para o trio de senadores por SC, nenhum deles apareceu. Esperidião Amin, que sempre marcou presença nos aniversários de João Rodrigues, desta vez não deu o ar da graça. Então, veja que a representação do Novo, a do PP e também a do MDB deixou muito a desejar. Do MDB, aliás, nenhum deputado estadual nem federal.
Por fora
São seis emedebistas na Assembleia e três na Câmara, além da senadora Ivete Appel da Silveira. Por parte do Manda Brasa, compareceram lideranças que hoje não têm voto. O ex-governador Eduardo Moreira e os ex-deputados Moacir Sopelsa e Ada de Lucca.
E o Podemos, com a deputada Paulinha Silva e o seu marido, já filiado ao PSD; e o prefeito de Bombinhas, eleito por ambos. Dos três deputados estaduais do Podemos, Camilo Martins e Lucas Neves não foram ao Oeste.
Lacunas
Fora isso, o lançamento da pré-candidatura deixou a desejar, indiscutivelmente. Outro aspecto que chamou a atenção. Em momento algum, houve a divulgação de quantos prefeitos lá estavam. Lembrando que Santa Catarina tem 295 municípios.
Incógnita
E aí? Foram 20, 30, 40, 50? Se tivesse sido um número representativo, certamente os pessedistas teriam divulgado. O principal prefeito do PSD, Topázio Silveira Neto (Florianópolis), que também preside a FECAM, a Federação Catarinense dos Municípios, já tinha sinalizado que não iria. Está fechado com o projeto Jorginho Mello. Raimundo Colombo, correligionário, ex-governador de dois mandatos e ex-senador, também não foi.
Pavans
Leonel Pavan, prefeito de Camboriú, ex-prefeito de Balneário Camboriú, cidade hoje administrada pela filha, não foi. Juliana Pavan foi a Chapecó.
Muita água ainda vai passar por baixo da ponte, mas a largada de João Rodrigues, definitivamente, não foi das melhores.
Blog do Prisco
Começou no jornalismo em 1980, no jornal O Estado. Atuou em diversos veículos de comunicação: repórter no Jornal de Santa Catarina, colunista no Jornal A Notícia e comentarista na RBS TV, TV RECORD, Itapema FM, CBN Diário e Radio Eldorado. Comenta diariamente em algumas rádios e publica sua coluna do dia em alguns jornais do Estado. Estreou em março de 2015, nas redes sociais e está no ar com o Blog do Prisco.