É sui generis a realidade política de Santa Catarina no contexto conservador: de um lado, uma candidatura repleta de apoios e aliados partidários; de outro, uma candidatura isolada, que não conta nem mesmo com o apoio integral do próprio partido. Refiro-me, respectivamente, a Jorginho Mello e João Rodrigues. Ocorre que o prefeito de Chapecó está observando o quadro com atenção. Porque a grande verdade é que o padrinho eleitoral de Jorginho criou dificuldades para ele.
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O governador já estava com a chapa fechada: o MDB indicaria o vice no projeto de reeleição, e o PL ocuparia a segunda posição na majoritária, com Carol De Toni ao Senado, dobrando com Esperidião Amin, da federação União Progressista. A partir do momento em que Bolsonaro, goela abaixo, impôs o filho Carluxo, as coisas começaram a se complicar.
Na quarta-feira passada
Os dois se encontraram. Carluxo estava presente. Vazaram, para o distinto público, duas versões do extrato da conversa. A primeira foi a que interessa a Jorginho: Bolsonaro teria assegurado apoio também ao nome indicado por ele ao Senado — ou seja, Esperidião Amin.
Com ela
A outra versão dá conta de que o ex-presidente teria dito que vai apoiar Carol De Toni, mesmo fora da chapa liderada pelo governador. Ora, prevalecendo essa segunda alternativa, Bolsonaro está praticamente humilhando seu correligionário. Na prática, quem vai colocar o nome de Esperidião Amin na convenção é o governador.
Bolsonaristas
Mas quem garante que o atual senador vai topar, sabendo que Bolsonaro não vai respaldá-lo? Além de Carluxo, que é filho, Carol De Toni tem todo um histórico bolsonarista. A ligação de Esperidião Amin é exclusivamente com a figura de Bolsonaro. E aí, como é que fica? Numa dessas, Amin pode ir ao Senado com João Rodrigues e levar a União Progressista junto. Possibilidade que não está descartada, evidentemente.
Condicionante
Nessa realidade, o PL pode lançar Carol e Carluxo na chapa de Jorginho. A grande verdade, para que não paire um sentimento de desconfiança entre os aliados, é que Carol não pode concorrer ao Senado — mesmo fora da chapa.
Avulsa
Por outro lado, não há mecanismo político, e muito menos legal, que a impeça de lançar seu nome por outro partido. Ela tem o direito, na janela de março do ano que vem, de trocar de legenda e concorrer à Câmara Alta. Para evitar essa situação, a única maneira seria acolher os três nomes na majoritária. Carol, então, teria que ser vice — cenário que Jorginho Mello já descartou.
Sem chance
Já há quem especule que ela poderia assinar ficha no MDB. Por óbvio, no entanto, o Manda Brasa não vai aceitar. Vai filiar Carol, sabendo que depois ela volta para o PL, apenas para resolver o problema dos liberais? Aliás, o MDB está promovendo uma grande mobilização estadual de fortalecimento da sigla neste fim de semana. E, até segunda ordem, o MDB ainda não se tornou um partido de aluguel.
Outro caminho
Evidentemente que os líderes emedebistas não topariam essa solução com Carol De Toni no partido para ser vice. Outra possibilidade é que, uma vez fechada a composição, ficando Amin ao Senado e Carol como vice, isso poderia levar o MDB para o lado de João Rodrigues.
Tempo de TV
Ou seja, confirmada a candidatura de Carluxo, ou o MDB, ou a União Progressista estarão com João Rodrigues. A União Progressista tem dois minutos e meio de televisão. O MDB tem menos.
Pendência
Até porque a União Progressista é resultado da federação que deve ser formalizada no mês que vem entre União Brasil e PP. Ressalve-se que o casamento entre UB e PP ainda não foi oficializado. Muita água ainda vai rolar, mas é fato: o nome de Carluxo criou um sério problema para Jorginho Mello.
Resumo
A chegada do vereador carioca pode estar viabilizando a candidatura de João Rodrigues — até então caquética — na medida em que a União Progressista ou o MDB acabam recorrendo a uma aliança com o prefeito de Chapecó, caso um deles seja excluído da composição liderada pelo governador.
A mídia nacional não deu a devida importância à filiação do ex-governador Ciro Gomes ao PSDB. Trata-se, na verdade, de um retorno do cearense ao ninho tucano — volta que tem as digitais do ex-senador Tasso Jereissati, seu amigo de longa data. Aliás, foi Tasso quem, após dois mandatos como governador do Ceará, o elegeu como sucessor. Ciro tem um histórico de problemas variados de relacionamento político: muitos atritos, conflitos, verdadeiras conflagrações públicas — inclusive com seu próprio irmão, hoje senador.
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Ele deixa o PDT e retorna ao PSDB, que está caindo pelas tabelas, perdendo consistência dia após dia. Em São Paulo, Gilberto Kassab tratou de desidratá-lo, levando dezenas de prefeitos às fileiras do PSD. Não custa lembrar que o PSDB nasceu no estado paulista a partir da defecção, em 1988, patrocinada por Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso, Franco Montoro e José Serra, diante do domínio de Orestes Quércia sobre o MDB.
Sinal
Ciro Gomes aproveitou o ato de filiação para acenar aos conservadores e, mais uma vez, acionou sua metralhadora giratória na direção do PT, do presidente Lula e do seu governo.
Mobilização
Ou seja, é mais um ator político, no contexto eleitoral de 2026, a se integrar ao movimento que busca colocar um ponto final no que considera ser um desgoverno marcado pela incompetência e pela corrupção — como avaliam críticos do terceiro mandato de Lula da Silva.
Contexto
É verdade que Ciro pode acabar virando candidato ao governo do Ceará. É uma alternativa interessante. O estado é o sétimo maior colégio eleitoral do país e, mais do que isso, está no miolo da região nordestina que Lula dominou na eleição de 2022, suplantando Bolsonaro nos nove estados.
Reflexos
Com Ciro como candidato, a configuração política pode mudar e irradiar para estados vizinhos, como Pernambuco, administrado pela hoje pessedista Raquel Lyra — eleita pelo PSDB.
Aglutinação
A volta de Ciro tem uma série de implicações e desdobramentos, mesmo que ele permaneça no Ceará. É um movimento com potencial para incorporar o PSDB a uma ampla coligação de partidos à direita.
Passado
O PSDB, que durante 20 anos rivalizou com o PT na disputa pela Presidência da República — de 1994 a 2014 — pode voltar ao protagonismo. Além disso, há a possibilidade de o próprio Ciro se transformar em candidato a vice, por exemplo, de Tarcísio de Freitas, abrindo uma perspectiva eleitoral extremamente favorável.
Metralhadora giratória
E com um detalhe que não pode ser desprezado: o cearense se encarregaria de disparar críticas à esquerda, ao PT, ao governo federal e ao próprio Lula, preservando Tarcísio de Freitas.
Respingos locais
Esse rearranjo, a partir do Ceará, pode ter reflexos em Santa Catarina. No ano que vem, o PSDB catarinense deve ficar apenas com o deputado estadual Marcos Vieira, presidente do partido. Geovania de Sá (federal) e Vicente Caropreso (estadual) estão batendo em retirada — ela vai para o Republicanos e ele para o União Brasil. Traduzindo: ainda que mínimo, o PSDB pode representar mais um reforço ao projeto de reeleição do governador Jorginho Mello.
Blog do Prisco
Começou no jornalismo em 1980, no jornal O Estado. Atuou em diversos veículos de comunicação: repórter no Jornal de Santa Catarina, colunista no Jornal A Notícia e comentarista na RBS TV, TV RECORD, Itapema FM, CBN Diário e Radio Eldorado. Comenta diariamente em algumas rádios e publica sua coluna do dia em alguns jornais do Estado. Estreou em março de 2015, nas redes sociais e está no ar com o Blog do Prisco.