Uma tragédia, uma verdadeira tragédia, a segunda passagem de Lula da Silva por Santa Catarina nesse terceiro mandato. Tragédia porque, mais uma vez, assim como ocorreu no ano passado, a deidade vermelha veio com promessas e mais promessas.
Houve um anúncio de investimentos na casa dos R$ 800 milhões para Itajaí e Navegantes. Mas, de concreto, de objetivo, assinatura de ordem de serviço, liberação de recursos — absolutamente nada. Só conversa, discursos eleitoreiros. Lula transformou o evento administrativo num ato político.
Na verdade, o ato virou um palanque eleitoral diante de um grande navio chinês — país que mantém uma das ditaduras mais brutais do mundo — com o atual inquilino do Planalto fazendo um discurso ultrapassado, caduco, popularesco, falando em benefícios sociais e tudo mais, numa clara tentativa de reverter, em Santa Catarina, um panorama político-eleitoral amplamente desfavorável. Senão, vejamos: Jair Bolsonaro, em 2018, no segundo turno, fez quase 76% dos votos.
Repeteco
Quatro anos depois, contra Lula — no lugar do poste Fernando Haddad — o resultado foi 70% a 30%. Uma sova. É bem verdade que Bolsonaro, muito provavelmente, não estará na urna eletrônica de 2026.
Perfil
Mas, mesmo assim, o Estado demonstra claramente que é essencialmente conservador. E a estratégia de Lula foi justamente tentar neutralizar, nem que parcialmente, essa desvantagem.
Isso ocorre no dia seguinte a uma pesquisa do Instituto Paraná, retratando a realidade eleitoral e fazendo avaliação administrativa do mandato de Lula da Silva, justamente no estado vizinho do Paraná, onde a rejeição do deus canhoto ultrapassa a casa dos 67%.
Ele, não
Vejam só: nas projeções de eleição de primeiro e segundo turno, ele perde para praticamente todo mundo. Ratinho Júnior, governador reeleito, jovem político, está em empate técnico com Lula.
No enfrentamento com Lula, Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, está nos calcanhares de Lula, que perde para Bolsonaro e Michelle de lavada.
Mofo
De modo que é absolutamente deprimente um “espetáculo” como o de ontem. Aqui nós criticamos duramente a ausência de Jorginho Mello. Mas já é de se avaliar até que ponto ele não agiu adequadamente. Ao fim e ao cabo, acabou acertando.
Pulou fora
Porque geraria constrangimento a presença do governador, aliado de Bolsonaro, num evento que não foi administrativo. Inclusive ele referiu-se indiretamente, sem citar nominalmente, Jorginho Mello, quando falou que “os que não vieram têm raiva.” De modo que, lamentavelmente, Lula da Silva passa a sensação de que não mudou.
Território vermelho
E o pouco que mudou, mudou para o pior. Essa que é a grande realidade. Das lideranças presentes, apenas a deputada Paulinha Silva (Podemos) e outros dois prefeitos. Cheirou a mofo o palanque.
Ressurgiram
Lá estavam dois petistas, que já ocuparam posições de proa em Santa Catarina, mas que foram aposentados pelas urnas. A ex-senadora Ideli Salvatti e o ex-deputado federal José Fritsch.
De certa forma, surpreendeu a agenda de Lula da Silva em Santa Catarina, mais precisamente em Itajaí, nesta quinta-feira. No começo da semana, ele enfrentou, novamente, problemas de saúde e uma crise de labirintite. Não se pode perder de vista que estamos falando de um cidadão com quase 80 anos.
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O petista, que nunca desceu do palanque, segue em plena campanha, já mirando 2026. Enfrentou a altitude e, já na quarta-feira, marcou presença no Nordeste, em Pernambuco e na Paraíba. Ontem pela manhã, esteve no estado vizinho do Paraná e, depois, desembarcou em território catarinense.
O que demonstra, muito claramente, a disposição de Lula da Silva em torno da recandidatura, mesmo considerando a fragilidade de sua gestão, o desgaste político e, digamos assim, a vulnerabilidade eleitoral que fica evidenciada em todas as pesquisas de opinião. Então, Lula marcando presença em Santa Catarina é um sinal inequívoco de que deseja, seguramente, com isso, reduzir a margem eleitoral que Bolsonaro abriu em relação a ele em 2022.
Margem
Foi 70% a 30% em favor do ex-presidente. Foi de goleada. Em princípio, tudo leva a crer que, com Bolsonaro fora do pleito, Lula, muito provavelmente, alimenta a possibilidade de reduzir essa distância e apresentar uma melhor performance por aqui.
Lorotas
Agora vamos falar da visita propriamente dita. Ele, no ano passado, também esteve em Itajaí, no Porto, prometeu uma série de medidas, anunciou uma série de ações, e nada até aqui foi implementado.
Fora dessa
Aliás, por falar em desgaste político, o governador Jorginho Mello tem que abrir o olho, precisa estar atento, porque, mais uma vez, ele ignora a presença de Lula da Silva no estado. E isso pode custar muito caro a ele. O catarinense evita, a todo custo, uma imagem, um vídeo, uma foto com Lula. Bobagem.
Conexões
O eleitorado sabe que ele é correligionário liberal de Jair Bolsonaro, que o apoia. Agora, ele poderá ser responsabilizado, lá na frente, por omissão ao não ter assegurado recursos da União para Santa Catarina, justamente por não cumprir suas obrigações institucionais como governador.
Palanque
É óbvio que o governador não foi ao evento, pomposo, de Lula da Silva e seus camaradas porque o atual inquilino do Planalto está em campanha. Aliás, não desce do palanque desde 1979.
O ato no terminal que o PT de Décio Lima tomou de Itajaí — o navio chinês — foi um gigantesco palanque. Literalmente eletrizante, em função de sua carga de mais de 7 mil carros elétricos.
Derrapada
Ocorre que o próprio Jorginho também está em campanha desde que assumiu, lá em janeiro de 2023. Em linhas gerais, o modus operandi é o mesmo: o cidadão ganha a eleição, nem assume e já começa a pensar na reeleição. Por esse motivo, a lei eleitoral deveria estabelecer mandatos únicos de cinco ou seis anos para o Executivo. E ponto final.
Blog do Prisco
Começou no jornalismo em 1980, no jornal O Estado. Atuou em diversos veículos de comunicação: repórter no Jornal de Santa Catarina, colunista no Jornal A Notícia e comentarista na RBS TV, TV RECORD, Itapema FM, CBN Diário e Radio Eldorado. Comenta diariamente em algumas rádios e publica sua coluna do dia em alguns jornais do Estado. Estreou em março de 2015, nas redes sociais e está no ar com o Blog do Prisco.